Salvador - Tão amada e tão odiada

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Por muitas vezes conheci pessoas que de alguma maneira não estavam contentes de terem nascidos ou viverem em Salvador ou até mesmo no Brasil. Tais pessoas insistem em fazer um comparativo de nossa cidade com outras do país, exemplo Sul do Brasil e eixo Rio-São Paulo ou até mesmo com a de outros países desenvolvidos (eu mesmo já fiz isso). O ponto é que as comparações são desiguais, basicamente o que eu tenho ouvido é o foco nos pontos negativos de nossa cidade, como violência, falta de segurança, tráfico de drogas, desigualdade social, poluição visual, sonora e o lixo espalhado nas próprias ruas. Há! Destacam também a falta de educação do povo soteropolitano, a falta de vontade de trabalhar (preguiça), além do mais, "ô povo festeiro que tira uma semana de folga todo carnaval." Até já ouvi falar que baiano é um povo feio. Ai, você vem e me diz: nos Estados Unidos a coisa funciona de outra forma, ou no Sul as pessoas são mais educadas e mais bonitas.

Afinal, qual é o problema? Seria com o local que você vive ou será que o problema está dentro de você?



Ao longo de minha vida venho sofrendo um processo de construção e desconstrução de conceitos. Valorizo isso e me inspiro quando vejo o mesmo ocorrendo constantemente com pessoas que eu conheço.

Quando eu voltei do meu intercâmbio nos EUA criei um conceito formado de que no Brasil / Bahia / Salvador tudo funciona de maneira errada. E que o Brasil está a passos distantes para se tornar um país desenvolvido (como os Estados Unidos). Pura ignorância minha, o intercâmbio que naturalmente tinha o objetivo de expandir minha mente para um novo mundo, acabou criando paradigmas e algumas barreiras culturais.

Pois bem, sem mais delongas em quase dois anos após meu retorno ao Brasil, redescobri minha cidade. Mais especificamente nos últimos meses que tive a oportunidade através do couchsurfing de conhecer muitos mochileiros de vários países ao redor do mundo.

Isso me permitiu turistar em minha própria cidade e ver ao quão linda e rica ela é. Hoje abro de boca cheia pra dizer que eu não troco minha cidade por nenhuma outra do mundo. Salvador é uma cidade completa no meu ponto de vista. E mesmo com todos os aspectos negativos, que não são tão negativos assim, os positivos sobressaem. Temos o maior carnaval do mundo o qual recebe um número monstruoso de turistas, e enquanto eles (vindo de outras partes do brasil e do mundo) muitos de nós continuamos trabalhando para manter essa festa. Salvador é uma cidade de um povo muito trabalhador que mesmo em crise encontram alternativas e novas possibilidades de gerar renda. Criatividade por sinal é um dos aspectos mais positivos do brasileiro / soteropolitano. O que chamam de "jeitinho brasileiro" eu chamaria de resolução de problemas com soluções alternativas. 

Ah, não posso esquecer. O nosso centro histórico é cheio de riqueza cultural, seja musica, dança, arte e história num só lugar gastando muito pouco (quando se conhece os lugares certos). Quem me conhece sabe, pelourinho é de longe meu lugar favorito de Salvador. Ah quem diga que lá é o lugar que só tem "gringo", mendigos, candomblé e gente feia.

Posso chegar agora no ponto onde eu queria. Perdão amigo, mas como eu já me senti antes, caso você não seja, possui uma grande tendência a ser racista, xenofóbico e infeliz consigo mesmo. Salvador é uma das cidades com maior influência de cultura negra do Brasil. Logicamente a população em grande massa possui raízes africanas, não só em aparência, mas como também em tradições culturais e religiosas. Quem se ousa a fazer um comparativo de nossa cultura com alguma outra, infelizmente é um ser pobre de sabedoria. Infelizmente criou-se um padrão de beleza e cultura europeia/americana que tudo que for diferente disso se torna feio. O estilo e beleza soteropolitana deixam os estrangeiros fascinados com tal diversidade. 

Só para finalizar esse longo texto, não pense que o quintal do vizinho é melhor que o seu, porque não é. Cada cidade tem seus pontos positivos e negativos. Não estou aqui para citar os negativos de lugares que teoricamente você pensa como perfeito. Aprendi que não existe nenhum lugar perfeito no mundo, existe basicamente os pontos que você consegue extrair deles. 

Assim eu consigo explicar como eu amo minha cidade e outras pessoas simplesmente a odeiam. 

E assim sigo, construindo e desconstruindo conceitos.






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